quem anda a espreitar as reviravoltas ?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

please don't stop the rain

(...) e naquele dia de verão,chuvoso e contrastante com o quente dos últimos dias, ele manda-lhe um bilhete , pedindo-lhe para se encontrarem às onze da noite, no local onde há exactamente três anos se conheceram. ela, apesar de ainda coberta de sentimentos de raiva , apesar de ainda destroçada, assentiu ao seu pedido, confiante de que poderia finalmente libertar-se dos seus fantasmas, berrar com ele, deixar-se levar pela emoção que ao longo de todos aqueles meses escondeu. já noite cerrada, céu coberto de nuvens, trovões iniciavam a melodia lá longe , e ela percorria aquele caminho que tantas vezes tinha feito, esse percurso que antes fazia feliz, fazia-o agora vagarosamente , com tremuras e arrepios que a assolavam continuamente. chegada àquele banco de jardim, a chuva começou a cair, gota a gota, como um presságio de qualquer coisa inevitável. ela olhou-o, observou cada detalhe do seu movimento ao levantar-se, e manteve-se quieta, calada, respiração sustida. nesse segundo, percebeu que ainda o amava.. contudo, esforçou-se (em vão) para apagar esse sentimento de si, que quase tinha conseguido esquecer , passado todo aquele tempo.. e naquela luta contra os seus sentimentos, ele aproxima-se dela, pegando-lhe na mão , tentando dar-lhe um beijo de perdão no canto do lábio .. rapidamente, tomada por uma miscelânia de sofrimento e raiva, ela afasta-se, vira as costas, e grita : NÃO ME TOQUES !
ambos começam a chorar , em lágrimas sentidas que se misturam com as gotas de chuva, que se tornam cada vez mais densas, cada vez mais regulares.. os seus corpos tremem, não por estarem cada vez mais gelados, mas sim por temerem aquela discussão,aquela separação definitiva..
ele tenta aproximar-se de novo, sussurrando "desculpa-me.." , ao que obtém de resposta um "nunca.." , que se pretendia forte e assertivo, mas acabou por ser fraco, triste..
"eu quero-te. deixa-me voltar para ti.. olha para mim. não vês sinceridade no que sinto? por favor.." ele tenta, ele tenta .. a rapariga, apesar de desprotegida, mantém-se firme, atacando "sinceridade ? o que percebes tu disso ? estragaste o valor das palavras ! como queres que acredite em alguém como tu ? não sabes o significado do verbo amar. assassinaste o sentido da palavra confiança. esquece tudo. adeus"
"não vás!" ," de que vale voltar? ", " eu mudo, eu prometo..", "não quero saber das tuas promessas.." "desta vez não são só promessas, são acções ! "
e os relâmpagos começam a rebentar ao seu lado, os raios atingem o espaço que os rodeia, a chuva é intensa, a chuva não pára, tal como aquela discussão..
ela chorava sem cessar , procurando forças para continuar a negar ..
"então estou farta de palavras. CALA-TE ! dá-me gestos, acções. dá-me tudo menos mentiras. fartei-me.."
a respiração dele tornou-se ofegante, igualmente desesperado..
ela virou as costas, iniciando o seu caminho de volta para casa, quando o rapaz , inevitavelmente , a agarrou ,completamente cego, abraçando-a com força , apagando todas as suas desconfianças..assim ficaram, durante longos minutos, debaixo de uma chuva que quase lhe parecia quente, apaziguadora..
"eu não posso.. eu tenho de ir.." explicou ela, numa última tentativa ..
"não , não vais. se fores, eu morro. "
"oh. és um traste"
(...)

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