quem anda a espreitar as reviravoltas ?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

nem todas as histórias têm um final feliz

(...)
durante meses, ela evitara a todo o custa voltar àquele lugar : sabia que as recordações lhe iam pesar,e que se ia tornar difícil não ceder aos sentimentos.
quando entrou naquele bar, ficou atordoada pela quantidade de 'dejà vus' que sentiu.. não era fácil lidar com aquela sensação, aquele aperto no peito que a sufocava. a coragem que há minutos atrás revelara, tinha agora desvanecido, pois novas histórias, diferentes hipóteses começavam a criar-se, peça a peça, na sua mente. dirigiu-se para a mesa habitual e sentou-se ,numa tentativa de recuperar forças. remexeu na mala, à procura na carteira, e perguntou à amiga:
"O que queres beber?"
"o de sempre, sabes bem que..." 
"okay . até já"
"ouve, não vás lá sozinha.. espera por mim. tu não estás bem! "
ela olhou-a, lábios tremidos e olhar perdido:
"estou.. ou pelo menos tenho de estar. se o encontrar , só me vai fazer bem. não tentes proteger-me porque não vale a pena, o mal está feito, é verdade é que estamos aqui, e eu.. tenho de enfrentar os meus problemas. se ele estiver com outra pessoa, só tenho de sorrir e aceitar. caso contrário, ser forte,e ..logo se vê
"mas eu vou ao balcão contigo. quer queiras quer não. vamos"
ela, assustada com a probabilidade quase certa de se deparar com ele, concentrou o seu olhar na bola de espelhos, que luzia lá ao fundo. fizeram os seus pedidos, e esperaram: ela, um pouco mais calma, sorria para a amiga e tentava começar uma conversa descontraída, comentando que aquele espaço estava cada vez mais moderno , numa conversa que pretendia manter a sua cabeça afastada de outros pensamentos. de repente, naqueles momentos de espera, reparou num olhar estranho, talvez preocupado, que a sua amiga lhe lançou: e imediatamente entendeu a razão daqueles olhos esbugalhados.
 sentiu um toque nos seus ombros, que se revelavam nus com aquele pequeno vestido preto.
era ele.
"já não me vens falar, não avisas que vais passar por aqui.. "
ela virou-se , respirando fundo de forma a arrefecer o seu coração que teimava em ceder.
"uau, agora decidiste ser comediante ? é que estás com uma piada, que nem te digo nem te conto.."
surpreendida consigo mesma, sorriu, orgulhosa com a sua resposta. contudo, aquilo era apenas o início
"não percebo o que se passou. afastaste-te, deixaste de me telefonar, puseste um fim às coisas sem sequer avisar.."
"pronto, eu já reconheci as tuas capacidades humorísticas. agora podes parar , por favor ? "
"leva-me a sério.."
"claro que sim. eu levo a sério tudo o que tu dizes.. da mesma maneira que levo a sério as tuas traições.
e as tuas falsidades, e as tuas mentiras.. "
"ouve, vamos falar para outro lado"
"não. tudo o que te tenho a dizer, pode ser dito aqui. nunca mais caírei nas tuas conversas. nunca mais me deixarei levar pelas tuas mentiras, pelas tuas farsas, pelas tuas palavras quando dizias "amo-te" . acabou-se a história. sem finais felizes, sem beijos de reconciliação. "
"não me faças isto. cometi muitos erros, eu sei, mas isso não é razão para acabar de vez com tudo o que criámos, tudo o que passámos."
"eu já aguentei muito. já aturei demasiada falta de dedicação. custa-me dizer isto,mas .. perdeste-me ."
"espera, não sejas teimosa.."
ela, instransigente , pega na sua bebida e ordena, num tom de voz altivo:
"olha bem para mim, de alto a baixo, olha para cada detalhe do meu corpo, lembra-te de cada pormenor daquilo que sou, por dentro e por fora: tenho a certeza que não querias perder isto, mas a culpa foi tua. vou dançar.. tchau"

E assim ela levantou a cabeça, e foi finalmente capaz de seguir em frente (depois de tantos anos agarrada àquela ilusão), sem olhar para trás, segura de que aquela decisão a tinha feito mais forte. orgulhosamente, reparou que era de novo a mesma pessoa: tinha o seu nariz empinado e a sua independência de volta.
já não era sem tempo.

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