Caminhavam lado a lado, naquela pequena praia , agora completamente vazia. Aquele fim de dia revela-se quase assombroso, o sol que outrora brilhava era neste momento apagado por um céu tempestoso,quase assustador. Porém, não seria a chuva,nem sequer um improvável tornado, que os afastaria daquele lugar. Ali estavam,os dois, com um único propósito: deixar que o mar lhes levasse os rancores, o ressentimento que um dia os separara.
Ela queria tanto gritar , dizer-lhe a alto e bom som que lhe parecia tão impossível perdoá-lo, que o que ele lhe tinha tirado era absolutamente único e irreparável, que tudo aquilo que ficara por dizer ainda a consumia, ainda a feria suavemente. Sempre que tentava falar, as palavras ficavam presas nos seus lábios ,sentia-se perdida nas emoções que a assolavam. até que, sem nunca o olhar nos olhos, começou.. : "um dia gostava de te entender. juro-te. gostava realmente de não te olhar como uma pequena maldição,que foi em tempos o maior êxtase, o melhor que já senti em mim.."
ele, emocionalmente engolido por aquele mar imenso, balbuciou "sei bem o que te fiz. sei bem que te roubei o pior que alguém pode tirar.."
"a capacidade de amar. foi isso que me tiraste, bruscamente, com as mentiras do passado, com a célebre frase 'vamos ser amigos' que nem nunca se concretizou. nunca na vida quis parecer ou ser frustrada ou derrotada, sempre fui forte, mas de que me vale isso agora ? zero, não vale nada. " ripostou ela, em lágrimas que agora se confundiam com a leve chuva que se iniciara
"gostava de poder mudar isso. infelizmente, não posso voltar atrás e reconstruir a nossa história. confia.. confia em alguém.. não em mim, mas em alguém.. eu não sou de confiança"
"pois não, és só um drogado estúpido. e drogados estúpidos só se aturam se souberem tocar guitarra como um génio. entendido ?"
"boa, insulta-me. é sinal de que estás a voltar a ser o que és" ele sorria, de certa forma aliviado com aquela tempestade de insultos
"cala-te. nem sei porque vim aqui. não é a conversar contigo que vou encontrar alguém que me queira pelo que sou, alguém que não queira o que tu querias. assombras-me, queria deixar-te bem longe dos meus pensamentos"
"ouve, eu nunca estive contigo só porque .."
"não vale a pena, a sério.. és passado. vou dar um mergulho"
"estás louca? nem te atrevas, já viste como está o mar?! "
"sabes bem que o mar não é um perigo para mim.. até já, é só um mergulho à chuva"
"NÃO ! Não vás ! "
de repente,a reviravolta. o twist na história. todos os ressentimentos, ela transformou-os em qualquer coisa de imparável, ele entregou-se ao irreparável.
ele agarrou-a. segurou-a pela cintura. beijou-a.
ela afastou-o. atirou-o para a areia. deitou-se a seu lado, olhou-o, e sussurrou "maldição". ele pediu-lhe desculpa incessantemente, mas ela.. muito sinceramente, não quis saber. procurou nele tudo o que tinha perdido, descarregou em si todos os seus sentimentos reprimidos. não o amava,desejava-o. ele não era o drogado, ele era o vício, em carne e osso, ali debaixo de si."
Oh gostei tanto :)
ResponderEliminarBeijinho*
ainda bem, obrigada :D
ResponderEliminarbeijinho